Essa é mais uma marcha para Jesus que ocorrerá na cidade de Jundiaí. Não é a minha cidade, pois aqui no Guarujá a marcha foi no sábado passado. Não vou me aprofundar muito no texto sem contexto que está no cartaz, afinal de contas nas marchas de hoje ninguém vai atravessar o mar vermelho perseguido pelos cavaleiros de faraó. E outra coisa, depois da travessia não existia um palco esperando e sim o deserto, e se fizéssemos outra analogia, não enxergo um palco com estrelas gospel como a terra prometida, longe disso. Vamos falar primeiro da história das marchas, de onde ela vem, e posteriormente vamos levantar possiveis razões porque as pessoas acompanham esse movimento.
Como as informações são poucas, e as vezes tendenciosas, terei que garimpar e mostrar a realidade do que é realmente a marcha ou o que era para ter sido..
É fato que a marcha:
A primeira Marcha para Jesus aconteceu em 1987 na cidade de Londres, no (Reino Unido), chamada de "City March", foi criada pelo pastor Roger Forster, da Ichthus Christian Fellowship, pelo cantor e compositor Graham Kendrick, Gerald Coates do movimento Pioneer e Lynn Green, de Youth with a Mission. A expectativa inicial de 5 mil pessoas foi largamente superada pela presença de 15 mil participantes, motivando a realização de um novo evento . Os líderes daquela primeira marcha cedo perceberam que tinham iniciado, por acaso, algo que era do coração de Deus e que eles poderiam alcançar o mundo se fossem obedientes a Ele.
No início, a intensão era tirar a igreja das quatros paredes e mostrar que ela estava viva e presente na sociedade. Quando 15.000 cristãos apareceram, vindos de diferentes Igrejas de toda a Inglaterra, para orar em Londres, debaixo de uma chuva torrencial, perceberam que Deus tinha algo muito maior em mente.
Outra Marcha de Oração foi convocada. Foi a primeira vez que usaram o nome “Marcha por Jesus”, e desta vez, 50.000 cristãos, de inúmeros grupos vindos da nação inteira, se juntaram para orar, adorar, e dar graças abundantemente Aquele que primeiro tinha se afeiçoado a eles.
Em 1989, mais de 45 localidades marcharam juntas em todo o Reino Unido, inclusive em Belfast (capital da Irlanda), onde 6 mil católicos e protestantes se reuniram, num visível sinal de união. Neste dia, 200 mil cristãos estiveram unidos em toda a nação, fato que voltou a repetir em 1990 e 1991.
Durante os próximos anos as marchas se espalharam pelo Reino Unido. Inicialmente em 49 centros, que por sua vez geraram centenas de pequenas marchas. Marchas então, se espalharam pela Europa, América e finalmente ganhou o mundo. Sem restrições quanto a denominações, tradições de igrejas, diferenças se dissolveram e os corações se fundiram em um só. “Nós amamos Jesus” “Nós estamos aqui para proclamar para esta nação que Jesus é o Senhor.
Em 1994 ou 1998, aconteceu a primeira Marcha Global para Jesus e cerca de 10 milhões de Cristãos, de mais de 170 países, saíram com orações e louvor pelas ruas. Algumas delas celebrando com muita alegria e levando a mensagem de boas novas e esperança em Cristo Jesus. Outros eventos, por prudência, foram feitos com muita discrição e também houve eventos secretos.
Então, 14 anos depois da “Marcha da Cidade”, depois Marcha Global por Jesus, o “Jesus Day” de 10 de junho de 2000, uma onda maciça de orações quebrou sobre todo o planeta. Esta foi uma celebração poderosa do nascimento da primeira criança do milênio e pelos olhos de Jesus, as vidas de crianças nas sociedades espalhadas pelo Globo se transformaram em um foco especial de oração e doação a fim de que aquelas crianças em cada nação do mundo pudesse ter um futuro melhor.
É claro a intenção da marcha no exterior como reunião de oração.
No Brasil
O evento chegou ao Brasil, através da iniciativa de lideranças evangélicas, principalmente da Igreja Renascer em Cristo e de outras igrejas neopentecostais, apoiada também por igrejas tradicionais e pentecostais.
A maior das Marchas para Jesus é realizada na cidade de São Paulo e reúne anualmente milhões de pessoas. Além desta, centenas de cidades pelo mundo e no Brasil, incluindo as principais capitais do país, possuem a sua edição do evento.
Fazendo parte do calendário oficial de diversas cidades, a Marcha para Jesus conta com a participação de trios elétricos de diversas comunidades e igrejas cristãs, envolvendo diversas denominações. Em setembro de 2009 o presidente Lula sancionou lei que transformou a data da Marcha para Jesus. Por força desta lei a Marcha passa a ser comemorada anualmente no sábado seguinte ao 60º dia após o domingo de Páscoa.
É isso mesmo que está grifado, o dia da marcha foi sancionado como lei pelo presidente, ou seja tem dia certo para acontecer.
Abaixo os trechos do Artigo de Augustus Nicodemos Lopes sobre a marcha.
A "Marcha para Jesus" é um evento que acontece em muitas
cidades do Brasil, patrocinado pela Igreja Apostólica Renascer em Cristo, e
consiste basicamente numa grande passeata de evangélicos com shows gospel. O
evento ocorre desde 1993 no Brasil e costumava dividir opiniões tanto na mídia
secular quanto evangélica. Hoje, já mais arrefecida, a "Marcha"
continua chamando a atenção, embora com menos intensidade. O presente artigo
visa apresentar uma análise crítica, não do evento propriamente dito, mas das
razões e argumentos apresentados para justificar o evento.
A Igreja Renascer, simplesmente importou a idéia para nossa pátria. No ano de 1993, chega a vez do
Brasil realizar a sua primeira edição do evento, sob a orientação da Renascer.
A partir daí, a cada ano, o evento toma mais e mais aspecto de show gospel,
apresentação de artistas evangélicos e desfiles, sempre com muita dança ao som
de pagode e axé ditos evangélicos. Em alguns locais, não sabemos se de acordo
com a coordenação da Marcha ou não, políticos evangélicos têm aproveitado a
oportunidade.
A Ideologia por Detrás da Marcha
Existe uma justificativa teológica elaborada para a Marcha, que procura
abonar o evento à luz da Bíblia. Os pontos abaixo foram retirados do site
Marcha para Jesus (www.marchaparajesus.com.br) e se constituem na "teologia
da Marcha". Aliás, a maior parte deles se encontra exatamente debaixo do
tópico "teologia" no site da Marcha. Segue um resumo dos principais
argumentos, entre outros, seguidos de um breve comentário.
1.A ordem de
"marchar" aparentemente foi dada mediante revelação do Espírito
Santo. Diz o site: A visão inicial da Marcha para Jesus, como qualquer outra ação em que os
cristãos empreendem para Deus, está baseado no conhecimento e na
obediência. Nós acreditamos que Deus diz para nós marcharmos, e esta obediência
precede uma revelação. O Espírito Santo de Deus nos conduz em toda a verdade
(João 16:13) e a teologia do ato de marcharmos para Jesus emerge quando nós nos
engajamos em ouvir o que o Espírito Santo está dizendo para uma Igreja atuante
e batalhadora nesta terra.
Comentário: O parágrafo acima não é claro, mas dá a entender que a visão
inicial foi mediante uma revelação de Deus, seguida da obediência da Renascer,
em cumprir a visão. Líderes da Renascer negam que a visão inicial foi dada por
revelação. Contudo, o parágrafo acima sugere que a visão da Marcha foi dada
pelo Espírito para a Renascer. Quando nos lembramos que a Renascer tem um
"apóstolo" (uso o termo entre aspas, não por qualquer desrespeito ao
líder da Renascer, mas porque não creio que existam apóstolos hoje à semelhança
dos Doze e de Paulo), imagino que "revelações" (uso o termo entre
aspas não por desrespeito às práticas da Renascer, mas porque não creio que
existam novas revelações da parte de Deus hoje) devam ser freqüentes.
2.Segundo a Renascer, a
Marcha é uma declaração teológica: a Igreja está em movimento e está viva! É o
meio pelo qual os cristãos querem ser conhecidos publicamente como discípulos
de Jesus.
Comentário: Se esta é a forma bíblica dos cristãos mostrarem que estão
vivos e que são seguidores de Jesus, é no mínimo estranho que não encontremos o
menor traço de marchas para Jesus no Novo Testamento, ou para Deus no Antigo.
3.A Marcha é
entendida como uma celebração semelhante às do Antigo Testamento, possuindo uma
qualidade extremamente espontânea e alegre. Participam da Marcha jovens de
caras pintadas, cartazes, roupas coloridas e canções vivazes. Isto é visto como
uma celebração do amor extravagante de Deus para o mundo.
Comentário: Na minha avaliação, o ponto acima dificilmente pode ser
tomado como um argumento bíblico ou teológico para justificar o evento. As
"marchas" de Israel no Antigo Testamento, não tinham como alvo
evangelizar os povos - ao contrário, eram marchas de guerra, para conquistá-los
ou exterminá-los, conforme o próprio Deus mandou naquela época. Fica difícil
imaginar os israelitas organizando uma marcha através de Canaã, com os levitas
tocando seus instrumentos e dando shows, para ganhar os cananeus para a fé no
Deus de Israel!
4.Marchar para Jesus
é visto também como um ato profético que dá consciência espiritual às pessoas.
Josué mobilizou as pessoas de Israel para marchar ao redor das paredes de
Jericó. Jeosafá marchou no deserto entoando louvores a Deus. Quando os cristãos
marcham, estão agindo profeticamente, diz a Renascer.
Comentário: Entendo que se trata de um uso errado das Escrituras. Por
exemplo: se vamos tomar o texto de Josué como uma ordem para que os cristãos
marchem, por que então somente marchar? Por que não tocar trombetas? E por que
só marchar uma vez, e não sete ao redor da cidade inteira? E por que não mandar
uma arca com as tábuas da lei na frente? E por que não ficar silencioso as seis
primeiras vezes e só gritar na sétima?
5.Marchar para Jesus
traz uma sensação natural de estar reivindicando o lugar no qual os
participantes caminham. Acredita-se que assim libera-se no mundo espiritual a
oportunidade desejada por Deus: "Todo o lugar que pisar a planta do vosso
pé, eu a darei ..." (Josué 1.3).
Comentário: Será esta uma interpretação correta das Escrituras? Podemos
tomar esta promessa de Deus a Josué e ao povo de Israel como sendo uma ordem
para que os cristãos de todas as épocas marquem o terreno de Deus através de
marchas? Que evangelizem, conquistem, e ganhem povos e nações para Jesus
através de marchar no território deles? Que estratégia é esta, que nunca foi
revelada antes aos apóstolos, Pais da Igreja, missionários, reformadores,
evangelistas, de todas as épocas e terras, e da qual não encontramos o menor traço
na Bíblia?
6.A Marcha destrói
as fortalezas erguidas pelo inimigo em certas áreas das cidades e regiões onde
ela acontece, declarando com fé que Jesus Cristo é o Senhor do Brasil.
Comentário: Onde está a fundamentação bíblica para tal? Na verdade, este
ponto é baseado em conceitos do movimento de batalha espiritual, especialmente
o conceito de espíritos territoriais, e em conceitos da confissão positiva, que
afirmam que criamos realidades espirituais pelo poder das nossas declarações e
palavras.
7.Os defensores da
Marcha dizem que ela projeta a presença dos evangélicos na mídia de todo o
Brasil.
Comentário: É verdade, só que a projeção nem sempre tem sido positiva.
Além de provocar polêmica entre os próprios evangélicos, a mídia secular tem
tido por vezes avaliação irônica e negativa.
8.Os defensores da
Marcha dizem que pessoas se convertem no evento.
Comentário: Não nos é dito qual é o critério usado para identificar as
verdadeiras conversões. Se for levantar a mão ou vir à frente durante os shows
e as pregações da Marcha, é um critério bastante questionável. As estatísticas
que temos nos dizem que apenas 10% das pessoas que atendem a um apelo em
cruzadas de evangelização em massa, como aquelas de Billy Graham, permanecem
nas igrejas. Mas, mesmo considerando as conversões reais, ainda não
justificaria, pois não raras vezes Deus utiliza meios para converter pessoas,
meios estes que não se tornam legítimos somente porque Deus os usou. Por
exemplo, o fato de que maridos descrentes se convertem através da esposa crente
não quer dizer que Deus aprova o casamento misto e nem que namorar descrentes
para convertê-los seja estratégia evangelística adequada.
9. Os defensores dizem
ainda que a Marcha promove a unidade entre os cristãos. Em alguns lugares do
mundo, a Marcha é concluída com um "pacto" entre as denominações,
confissões e indivíduos, exigindo que cada um deles não faça mais discriminação
por razões doutrinárias.
Comentário: Sou favorável à unidade entre os verdadeiros cristãos. Mas
não a qualquer preço e não qualquer tipo de união. A unidade promovida pela
Marcha, sob as condições mencionadas acima, tem o efeito de relegar a doutrina
bíblica a uma condição secundária. O resultado é que se deixa de dar atenção à
doutrina. Em nome da unidade, abandona-se a exatidão doutrinária. Deixa-se de
denunciar os erros doutrinários grosseiros que estão presentes em muitas
denominações, erros sobre o ser de Deus, sobre a pessoa de Jesus Cristo, a
pessoa e atuação do Espírito, o caminho da salvação pela fé somente, etc.
Unidade entre os cristãos é boa e bíblica somente se for em torno da verdade.
Jamais devemos sacrificar a verdade em nome de uma pretensa unidade. A unidade
que a Marcha mostra ao mundo não corresponde à realidade. Ela acaba escondendo
as divisões internas, os rachas doutrinários, as brigas pelo poder e as
divisões que existem entre os evangélicos. Se queremos de fato unidade, vamos
encarar nossas diferenças de frente e procurar discuti-las e resolve-las em
concílios, reuniões, na mesa de discussão - e não marchando.
10. Os defensores da
Marcha dizem que ela é uma forma de proclamação do Evangelho ao mundo.
Comentário: A resposta que damos é que a proclamação feita na Marcha vem
misturada com apresentações de artistas gospel profissionais, ambiente de folia
e danceteria, a ponto de perder-se no meio destas outras coisas. Além do mais,
a mensagem proclamada é aquela da Renascer em Cristo, com a qual naturalmente
as igrejas evangélicas históricas não concordariam, pois é influenciada pela
teologia da prosperidade e pela batalha espiritual.
É evidente que, analisada de perto, a "teologia da Marcha" não
se constitui em teologia propriamente dita. Os argumentos acima não provam que
há uma revelação para que se marche, e não justificam a necessidade de os
cristãos obedecerem organizando marchas. Não há qualquer justificativa bíblica
para que os cristãos façam marchas, nem qualquer sustentação bíblica para a
idéia de "dar a Deus a oportunidade" mediante uma marcha, ou ainda de
que, marchando e declarando, se conquistam regiões e cidades para Cristo. Se há
fundamento bíblico, por que os primeiros cristãos não o fizeram? Por que
historicamente a Igreja Cristã nunca fez?
Pelos motivos acima, entendo que os argumentos bíblicos e teológicos
apresentados para justificar a Marcha para Jesus não procedem. Nada tenho
contra que cristãos organizem uma Marcha para Jesus. Apenas acho que não
deveriam procurar justificar bíblica e teologicamente como se fosse um ato de
obediência à Palavra de Deus. Neste caso, estão condenando como desobedientes
todos os cristãos do passado, que nunca marcharam, e os que, no presente,
também não marcham.
Esses foram os comentários de Augustus Nicodemos sobre a marcha. Os textos acima não explicitam a minha perfeita opinião, por diferenças doutrinárias, mas nos leva a reflexão do porque das marchas. Prefiro voltar lá no inicio do movimento quando as pessoas se reuniam para orar, e não para assistir a estrela gospel do momento. Só lamento.
BIBLIOGRAFIA:
pt.wikipedia.org/wiki/Marcha_para_Jesus
www.igospel.org.br/
amigosdocrivella.com
www.sosmissoes.net
www.luz.eti.br